Na década de 80, eram raras as pessoas que possuíam um celular. Ele pesava quase o triplo dos modelos atuais e custava um bom dinheiro. Hoje, com o avanço tecnológico, existem celulares de todos os tipos, pesos, preços e tamanhos. O estranho atualmente é uma pessoa não ter um celular! O celular e suas tecnologias evoluíram rapidamente e trouxeram consigo diversos benefícios, mas mal deram tempo para o mercado e seus consumidores de respirar e perguntar: Mas o celular faz mal à saúde de seu usuário? Pesquisas indicam que sim. Além de muitos conterem substâncias tóxicas em sua estrutura, as ondas emitidas por eles podem causar danos sérios à saúde.
Primeiro, é melhor entender como os celulares funcionam.
Os celulares são rádios, porém, normalmente os rádios recebem ondas eletromagnéticas por meio de uma antena central, e o avanço presente na ideia dos celulares está justamente nisso. Para eles, existem várias antenas organizadas em células, ou seja, cada célula é responsável por cobrir uma pequena área, e o conjunto de células de antenas formam uma rede para os telefones celulares, daí também o porquê do nome celular. Uma vantagem das antenas dispostas em células é que, quando se está em movimento e falando ao celular, é possível mudar de uma célula para outra e continuar a comunicação normalmente.
Outra diferença entre funcionamento do rádio e do celular é que, quando se utiliza um rádio para comunicação, uma pessoa fala por vez porque ambas utilizam da mesma frequência. Já nos celulares, uma frequência é utilizada para transmitir a fala e outra é usada para a escuta.
A radiação eletromagnética no celular é emitida pela antena acoplada ao aparelho. Essa radiação tem uma frequência maior do que as utilizadas em rádio. O problema que envolve a radiação dos celulares está relacionado ao fato de que usamos esses aparelhos próximos ao corpo e, principalmente, perto da cabeça. Essas antenas acopladas no celular emitem radiação eletromagnética em uma direção quase simétrica, ou seja, quando o aparelho está a uns 25 centímetros da cabeça, essa radiação é absorvida quase que totalmente, sendo potencialmente nociva para o corpo humano e principalmente para o cérebro.
RISCOS
Em pesquisas realizadas pelo Interphone Study Group em parceria com a Internacional Agency for Research on Cancer (IARC), concluiu-se que existem suspeitas de aumento de tumor maligno no sistema nervoso central para usuários que utilizam frequentemente o celular do mesmo lado da cabeça. Diante desse cenário, a IARC classifica o campo magnético emitido pelos celulares como possivelmente carcinogênico para humanos, ou seja, a radiação interfere na saúde do ser humano, porém as evidências atuais ainda não são suficientes para classificar essa radiação como carcinogênica para humanos.
Segundo estudo científico realizado por especialistas da National Institute on Drug Abuse, há uma associação entre utilizar por 50 minutos o celular no modo convencional (perto da cabeça) e o aumento do metabolismo da glicose cerebral. Até o momento, essa evidência não tem significância clínica para que se possam tirar conclusões sobre o que esse efeito pode provocar na saúde.
Para outra pesquisa elaborada na Universidade de Tampere (Finlândia), os tumores malignos em usuários de celular não se localizam necessariamente em partes atingidas pela radiação emitida pelos aparelhos, ou seja, eles podem surgir em outros lugares do corpo, afetando negativamente a saúde humana.
Também na Universidade de Oxford, foi sinalizado o aumento dos riscos de tumor maligno associado ao uso prolongado do celular (mais de cinco anos), sendo que o risco aumenta proporcionalmente aos anos de uso. Assim como também afirma um grupo de trabalho gerido pela IARC, segundo o qual as chances de ocorrência de câncer em 10 anos podem aumentar em 40%, quando o celular é utilizado perto da cabeça por em média 30 minutos por dia.
Outro efeito associado à radiação e a saúde, envolve a interferência que a radiação eletromagnética emitida principalmente pelos celulares, causa em medicamentos homeopáticos. Existem estudos que indicam a diminuição dos efeitos de medicamentos em animais expostos à radiação eletromagnética.
REGULAÇÃO
No Brasil, existem limites para a Taxa de Absorção Específica (SAR ou Specif Abortion Rate), estabelecidos por meio da Resolução nº 303, de 02 de julho de 2002 da Anatel, que estabelece o valor máximo da SAR de 2 watts por quilo (W/kg) para as regiões da cabeça e do tronco. Nos Estados Unidos, a SAR estabelecida pela Federal Communications Commission (FCC) é de 1,6 W/kg. Esse valor significa que em um quilo de tecido da cabeça e do tronco não pode ser absorvido mais de 2 watts de energia provinda da radiação emitida pelo celular. Esses valores são os mesmos adotados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que foram determinados pela Comissão Internacional de Proteção contra as Radiações Não Ionizantes (ICNIRP, sigla em inglês). No entanto, em discussão na Câmara dos Deputados do Brasil, foi apontado que os valores determinados pela ICNIRP datam de 1998 e somente consideram os efeitos na saúde da radiação para curto tempo de exposição. O cenário mundial é outro na atualidade, principalmente no Brasil. É preciso determinar os limites de absorção da radiação baseado nos seus efeitos à saúde para uso prolongado dos aparelhos. Só para se ter uma ideia, de acordo com um levantamento de um site britânico, em média os usuários passam 90 minutos por dia interagindo com o telefone celular. E brasileiros já interagem com o celular assim que acordam, segundo IBOPE.
Os limites da SAR estabelecidos pela Anatel e pela FCC valem também para aparelhos de wireless de uso restrito, ou seja, aqueles que usamos em casa, o chamado roteador wi-fi. Esses aparelhos também emitem radiação eletromagnética e também apresentam os mesmos riscos à saúde associados aos telefones celulares.
OUTRAS FONTES DE RADIAÇÃO
Somos expostos por campos eletromagnéticos de todos os tipos. Além dos gerados por aparelhos celulares, os de antenas de telecomunicação, linhas de transmissão de energia elétrica, equipamentos eletroeletrônicos, eletrodomésticos, antenas de radiodifusão (que são as de TV e as bandas AM e FM) e radares e telefones fixos sem fio também geram campos eletromagnéticos que podemos até denominar como poluição eletromagnética.
Os fornos de micro-ondas, segundo a Anatel, são completamente seguros quando desligados, porque não emitem nenhum tipo da radiação micro-ondas. Já quando ligados e, se apresentarem algum defeito, como mau funcionamento das travas de segurança, podem emitir radiação. Por isso, é sempre importante que o usuário verifique se a porta está fechada corretamente, se as travas da porta estão limpas e sem sinais visíveis de danos.
As antenas de telecomunicação, principalmente as antenas de comunicação celular, são uma grande preocupação com relação aos riscos que oferecem para a saúde. Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros mediu a existência de correlação espacial entre as mortes por neoplasia (tumor maligno) em Belo Horizonte e a presença de estações radiobase (antenas e torres). O resultado é assustador: em 10 anos, foram registradas mais de sete mil mortes por neoplasia, todas elas estavam dentro de um raio de até 500 metros das estações radiobase. Fora desse raio, as mortes por neoplasia foram decrescendo proporcionalmente à distância das torres e antenas.
Na Índia, país considerado um dos líderes no mercado global de telecomunicações, existem vários casos de aparecimento de câncer relacionado à proximidade de antenas e torres de celular. Um caso famoso ocorreu em Mumbai, no ano de 2010, onde foram relatados seis casos de câncer em andares consecutivos, de um edifício localizado em frente a várias antenas e torres de telecomunicação.
Para as antenas e torres de telecomunicação, a IARC também classifica essa radiação como possivelmente carcinogênica.
ATENÇÃO PARA AS CRIANÇAS!
A OMS aponta para vários estudos que indicam efeitos da radiação de antenas e de aparelhos celulares na saúde de crianças. As crianças compõem parcela crescente de usuários de celulares e de outros dispositivos eletrônicos em geral.
A massa corporal de uma criança é muito menor que a de um adulto, devido a isso, a radiação absorvida pelo corpo pode causar efeitos muito mais sérios. Dentre os apontados pelo grupo de trabalho, estão: problemas de aprendizado, distúrbios comportamentais, comprometimento do sistema imunológico e câncer.
DICAS
A U.S Food and Drug Administration (FDA) apresenta dicas para te proteger da radiação, indicando a utilização de kits próprios para celulares que contêm dispositivos para tornar possível a conversação no celular sem entrar em contato com a área da cabeça, como os fones de ouvido. Ainda nas recomendações, a FDA afirma que a utilização desses kits reduz, mas não elimina os riscos que eventualmente possam estar relacionados à exposição e à radiação emitida pelos celulares. A FCC também indica que manter o celular longe do corpo e da cabeça, usar o viva voz para falar ao telefone, redigir mensagens de texto, utilizar o telefone fixo quando se tem a opção e fazer uso consciente do celular, evitando falar por horas, também ajudam muito a diminuir a absorção de radiofrequência. Outra dica que contribui em muito para a sustentabilidade é adotar um único telefone celular. Existem pessoas que possuem dois ou mais equipamentos. A melhor opção é usar tecnologia que suporte mais de um chip, gerando até uma economia considerável. Assim, você evita carregar tantos telefones celulares e diminui o descarte de aparelhos eletrônicos. Os fabricantes de celulares também recomendam nos manuais de instruções, manter o celular no mínimo um centímetro afastado da cabeça.
Outros equipamentos e acessórios de diversas marcas foram criadas para minimizar a quantidade de radiação que chega à cabeça, que além de te oferecer proteção, torna mais sustentável e saudável a utilização do aparelho celular. Normalmente, eles são constituídos por uma capa protetora composta por camadas, que são responsáveis por trazerem os benefícios de limitar a radiação.