O exame que detecta o câncer… pode estar causando isso. Pense nisso.
A bênção e o fardo da tomografia computadorizada
Na era das maravilhas médicas, poucas tecnologias são tão celebradas — ou tão onipresentes — quanto a tomografia computadorizada (TC). Oferecendo imagens internas rápidas e detalhadas, ela revolucionou os diagnósticos, salvando inúmeras vidas. No entanto, por trás desse triunfo tecnológico, esconde-se uma crescente inquietação.
Um estudo inovador de 2025 publicado no JAMA Internal Medicine chegou a uma conclusão preocupante: tomografias computadorizadas realizadas nos Estados Unidos em 2023 podem resultar em mais de 100.000 casos futuros de câncer — uma projeção alarmante que pode posicionar a tomografia computadorizada como a fonte de até 5% dos diagnósticos anuais de câncer nos EUA.
O problema por trás da imagem: contexto para preocupação
A tomografia computadorizada utiliza radiação ionizante — uma forma de energia que pode danificar o DNA e, com o tempo, potencialmente desencadear câncer. Embora outras técnicas de imagem médica, como ultrassom ou ressonância magnética, sejam isentas de radiação, a tomografia computadorizada costuma ser o primeiro recurso devido à sua rapidez e detalhes, especialmente em situações de emergência.
Em 2023, 93 milhões de exames de tomografia computadorizada foram realizados em mais de 61 milhões de pacientes, um aumento de mais de 30% desde 2007. Muitos eram provavelmente necessários. Mas, como observam os autores, uma parcela significativa não o foi. Isso levou ao que alguns especialistas agora chamam de paradoxo da saúde pública: uma ferramenta de diagnóstico que ajuda a detectar o câncer também pode estar contribuindo para seu aumento.
O que o novo estudo revela
Metodologia em poucas palavras
A equipe liderada pela Universidade da Califórnia, em São Francisco (UCSF), analisou 121.000 tomografias computadorizadas reais de 143 hospitais em 20 estados. Utilizando o software de modelagem RadRAT do Instituto Nacional do Câncer (National Cancer Institute), os pesquisadores estimaram as doses de radiação específicas para cada órgão e projetaram os riscos de câncer ao longo da vida para diferentes faixas etárias, sexo e tipos de exame.
Eles excluíram pacientes no último ano de vida — onde o risco de câncer por radiação é irrelevante — e descobriram que, mesmo com esses ajustes, 103.000 cânceres induzidos por radiação poderiam ser esperados nas próximas décadas.
Principais descobertas
- Os adultos são os mais afetados: 91% dos cânceres projetados ocorreram em adultos.
- As crianças enfrentam maiores riscos por exame, com bebês com menos de um ano enfrentando até 20 cânceres a cada 1.000 exames.
- Tipos de exames mais comuns que causam câncer: abdominais/pélvicos (37% dos casos), tórax (21%) e cabeça (12%).
- Cânceres mais comuns associados à TC:
- Câncer de pulmão (22.400 casos)
- Câncer de cólon (8.700)
- Leucemia (7.900)
- Câncer de mama (5.700)
- Câncer de tireoide (7.000; metade em crianças)
Notavelmente, esta projeção marca o triplo de um estudo semelhante de 2009, impulsionado pelo aumento do uso da TC e melhores dados sobre a exposição à radiação relacionada à tomografia.
Resistência da indústria e contenção científica
Críticos do estudo, incluindo radiologistas respeitados da Clínica Mayo e da Universidade Duke, argumentam que as projeções podem superestimar o risco devido à dependência de dados de sobreviventes da bomba atômica e modelos estatísticos, em vez de resultados observados em pacientes. Eles enfatizam a natureza salvadora da TC no estadiamento de traumas, AVCs e cânceres, alertando contra a disseminação do medo.
No entanto, essas refutações, embora válidas, ignoram uma questão ética mais profunda: consentimento informado e necessidade médica.
O segredo sujo da TC: a radiação é cumulativa
Embora uma única tomografia computadorizada possa parecer inofensiva – equivalente a vários anos de radiação de fundo – exames repetidos multiplicam a exposição. Muitos pacientes, especialmente aqueles com doenças crônicas ou em vigilância oncológica, podem acumular doses de radiação muito além dos limites seguros, aumentando o risco de indução de câncer em ordens de magnitude.
Como observa o Dr. Madan Rehani, de Harvard, quebras de DNA causadas pela radiação da TC podem não ser reparadas ou podem ser reparadas incorretamente, criando o cenário perfeito para mutações e malignidades.
Uso excessivo e sub-regulamentação: um problema sistêmico
Uma das admissões mais preocupantes da própria comunidade médica é que até 30% dos exames de imagem podem ser desnecessários — solicitados por hábito, medo de litígio ou exagero no diagnóstico. Essa “medicina defensiva” não só inflaciona os custos da saúde, como também pode prejudicar ativamente os pacientes.
Além disso, tomógrafos computadorizados mais antigos, ainda em uso em muitas clínicas rurais e subfinanciadas, geralmente emitem doses mais altas, e poucos pacientes são informados sobre sua exposição à radiação.
As campanhas Image Gently e Image Wisely visam reduzir exames desnecessários, especialmente em pediatria. No entanto, sem o monitoramento obrigatório da dose ou leis de divulgação de informações ao paciente, grande parte do fardo ainda recai sobre pacientes desinformados.
O que o movimento da saúde natural vem alertando há muito tempo
Os defensores da medicina natural e integrativa há muito alertam contra a dependência excessiva de intervenções radiológicas, especialmente quando opções não ionizantes como ressonância magnética* ou ultrassom são adequadas. Eles argumentam que a verdadeira prevenção reside na nutrição, na desintoxicação e no estilo de vida — não na exposição de tecidos sensíveis à energia cancerígena em nome do diagnóstico.
O estudo da UCSF não contesta a utilidade da TC, mas confirma o que os defensores da saúde holística alertam há décadas: mais exames de imagem não significam melhor atendimento. E, em muitos casos, menos é mais quando se trata de radiação.
Um caminho a seguir: digitalização mais segura, decisões mais inteligentes
Se a TC for necessária, os protocolos de otimização de radiação devem ser padrão. A boa notícia? A tecnologia já existe. Acredita-se que scanners de dose ultrabaixa e imagens aprimoradas por IA podem reduzir a exposição em até 90% sem sacrificar a clareza. Mas até que os pacientes exijam e os hospitais invistam, o progresso permanecerá lento.
De acordo com o Dr. Rehani, a demanda do mercado é fundamental: “Os fabricantes dizem que poderiam produzir máquinas ultra-seguras hoje, mas os compradores não as estão solicitando.”
O que você pode fazer: empoderamento por meio da conscientização
Os pacientes devem se tornar defensores. Antes de se submeter a uma tomografia computadorizada, faça perguntas:
- Essa verificação é realmente necessária?
- O que isso mudará no meu plano de tratamento?
- Uma ressonância magnética* ou ultrassonografia poderiam fornecer informações semelhantes?
- A dose de radiação foi ajustada para minha idade e tamanho corporal?
Mesmo uma conversa empoderada pode mudar a trajetória do cuidado — e da saúde.
Conclusão: Repensando nossa relação com a radiação
Embora seja amplamente acreditado e divulgado que as tomografias computadorizadas salvaram milhões de vidas, o estudo liderado pela UCSF deixa claro que elas também podem estar silenciosamente custando vidas – até 5% de todos os cânceres nos EUA. Diante dessas descobertas, análises de risco-benefício renovadas precisam ser conduzidas. Uma ferramenta tão poderosa deve ser usada com precisão, humildade e transparência – não como um reflexo, mas como último recurso.
*As ressonâncias magnéticas são rotineiramente realizadas com agentes de contraste tóxicos, como o gadolínio. Informe-se para saber mais sobre os riscos reais.
Fonte: https://www.vigilantfox.com/p/shocking-new-data-links-ct-scans